0:00 a.m. - 4:45 a.m.
local: sala de espera de uma estação de comboios
ambiente: silencioso, taciturno, mórbido...
Silêncio...
Demasiado silêncio...
Os sentidos estão activos apesar de começarem a esmorecer. Mesmo assim, não me sinto confortável em ceder à tentação de descansar, prefiro observar os despojos humanos que circulam à minha volta... Desprezados da sociedade, apelidados de monstros, mutantes, praga... O cheiro fétido que emitem ajuda-me a manter a vigília, assim como os seus gestos lentos e de trajecto estranho me intrigam... Penso naquilo que os levou ali, até mesmo naquilo que me levou ali... Canso-me de pensar...
Agarro na pequena garrafa de água que jaz a meu lado, bebo para impedir que os lábios quebrem de tão secos que estão, sentindo a frescura das poucas gotas de água. Por momentos esqueço-me que permaneço no mesmo local...
Passa um homem gordo e desgrenhado por mim, não me vê, não porque não me queira ver ou porque eu seja invisível, mas porque a garrafa que traz e a longa e fina linhagem que a antecedeu o ajudavam a isso...
Encosto-me de novo esperando que o tempo passe rápido...
Afinal, não é uma questão de vontade, o tempo demora sempre tempo a fazer-se passar...
E eu fico, assim como aquilo que e rodeia...
Assim sou eu em viajem.