domingo, outubro 30, 2005

O cavalinho...

Hoje desenhei num papel
Um pequeno carrocel
De cavalinhos de muitas cores.
De seguida entrei nele
E lá me perdi de amores
Por um cavalinho triste
Que me pediu, por favor,
Que lhe ensinasse a cor do sorrir
E, do sentir, o sabor,
Pois só conhecia o do sal
Que lhe queimava a alma
Da madeira que o sustentava,
E lhe tirava o alento
De soltar as crinas ao vento
E sonhar!...

Em espanto, toquei o cavalinho,
No dorso pousei minha mão
E, com carinho, lhe dei, num sorriso,
Um pedacinho do coração!
Pouca coisa...
Que, para quem nunca sentiu,
Uma pequena gota é um rio
E o micro transforma-se em macro
Na passagem de um segundo!
E uma ilha passa a ser o mundo,
E numa flor vê-se o jardim...
Num simples toque saboreia-se
O macio do cetim...
E o pálido rosto vira carmim...
E...

O cavalinho sorriu para mim
E disse, simplesmente:

" Eu gosto de ti!"

Eu...
Bebi o mel daquele olhar,
Saí depressa do papel
E não deixei que o cavalinho
Me visse chorar!...

Agora,
Quando olho o carrocel,
Sei que aquele cavalinho,
De olhar de mel,
Um dia aprendeu...
A amar!

Cristina Fidalgo

terça-feira, outubro 25, 2005

Sempre...

Como se os nossos corpos rebolassem num colchão de palavras,
nadei nos conceitos que me sussurraste ao ouvido,
nas frases soltas que tomaram forma afirmativa do meu e do teu ser!
Gemi as exclamativas frases que me arrancaste do fundo do peito...
Amei-te num futuro mais-que-perfeito!
Bani dos meus horizontes o modo condicional do verbo sentir
e usei o gerundio do gosto de sorrir...
Num complemento circunstâncial de modo...
Amei-te!
No circunstâncial de lugar fiquei à espera que o circunstâncial de tempo fosse um segundo...
do tamanho do mundo!
Antes do amo coloquei um pronome pessoal e a seguir um reflexo
e vi que tinha nexo o que acabei de te dizer!
Muniste-te então do campo lexical de tempo...
Sob a forma determinante da interrogativa
e surgiu o "quando?"
logo seguido da verbalização angustiada do "amanhã?"

Apenas te respondi
no modo docemente circunstancial
com a única temporal que eu senti:
Sempre!

Cristina Fidalgo

sábado, outubro 22, 2005

Waitin' for the Revelation

I don't wanna go to school.. i don't need no education
I don't wanna be like you.. i don't wanna save the nation
I just wanna live my life.. everyday a celebration
One day i'ma leave this world.. i'm waitin for the revelation

D12 - Revelations

Passado...

"Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia. "

Fernando Pessoa, 1931.

Amava-te...(suspiro)


quarta-feira, outubro 19, 2005

~ I'll see you in my dreams ~

4:00 a.m. - 1:00 p.m.
local: demasiado desorientado...
ambiente: demasiado cansado...

Caminho incerto dos meus passos...
Em torno de mim desenrola-se um bailado de formas sorridentes que dizem através dos seus dentinhos aguçados para acabar aquilo que vim para fazer.
Algo me faz tombar.
Como um colosso com demasiada energia cinética abato-me sobre o solo deixando um rasto de destruição na região de impacto. A mente que até aquele momento coordenava as poucas funções motoras que ainda restavam desapareceu, acompanhando fotões a uma velocidade que o corpo não foi capaz de acompanhar.
Linhas paralelas formaram-se em torno do túnel percorrido pela minha mente, enclausurado sentindo uma suave junção de claustrófobia e dor acabei por perder-me da minha própria mente acabando no vazio...
Passado algum tempo senti calor em algo que pensava ter perdido há muito, uma mão tocava-me na face, os meus olhos traíram-me não querendo abrir, mas a mão insistia em dar o seu calor balsâmico. Lentamente os olhos acabaram por ceder à sua teimosia...
A visão fez-me chorar, já não era a visão do inferno negro da noite, agora era uma luz intensa que me fazia chorar, apesar de gradualmente já conseguir distinguir formas...
Não, não era Deus ou um anjo... Era um chamamento... A minha última remissão para todos os pecados...
Era...

terça-feira, outubro 18, 2005

Scream

Its time for yo confessions I be the priest
Celebrate and salute the sign of a suicidal soldier
Better become a bible holder as I start to massacre
Men with a verbal recital that's colder

Kill Us All - Twista

Murderous Walk...

Man in the front got a sinister grin, careen down highway 666
We wanna go, crush the slow, as the pitchfork bends the needles grow
Marms are wheels, my legs are wheels, my blood is pavement
We're gonna ride to the abbey of thelema, to the abby of thelema

Misery Machine - Marilyn Manson

domingo, outubro 16, 2005

Identidade

"O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho ! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu Reino fica para além ...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !"

Florbela Espanca-Versos de orgulho

sábado, outubro 15, 2005

Ao Passenger....

Tabaco ... fumar ... cigarro ... haverá melhor que descreva a estupidez humana???

Enfim, um fumador é:
1. Uma pessoa sem personalidade (as razões pelas quais as pessoas começam a fumar revela isso mesmo)
2. Uma pessoa irresponsável
3. Uma pessoa burra
4. Uma pessoa ... ASSASSINA (quantos fumadores passivos não morrem por esse mundo fora?)
5. Uma pessoa ... poluidora

Enfim ... não é pessoa!
...the other passenger

quinta-feira, outubro 13, 2005

Canção do masoquismo...

Eu hei-de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.

(...)

Hei-de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
E hei-de olhá-la dum modo tão nervoso,

Que ela há-de, enfim, sentir-se constrangida,
Cheia de dor, tremente, alucinada,
E há-de chorar, chorar enternecida!

E eu hei-de, então, soltar uma risada.

Lisboa, 1871

Cesário Verde - Cinismos

Just keep walkin'

Aqui na terra a fome continua
A miséria e o luto
A miséria e o luto e outra vez a fome
Acendemos cigarros em fogos de napalm
E dizemos amor sem saber o que seja.

José Saramago - Fala do Velho do Restelo ao astronauta

sexta-feira, outubro 07, 2005

~ Passeio ~

5:00 p.m. - 6 p.m.
local: um passeio...
ambiente: era apenas um passeio como outro qualquer...

Caminhava seguro dos meus passos.
Tinha uma coisa em mente conhecer aquela que me aparecia em sonhos... nada mais importava. Sorria... sorriso mais sincero era impossível, seria felicidade ou apenas cegueira?
Acendi um para o caminho, ia ser longo, ia ser determinante... final... um completo bottom line...

Nunca mais queria voltar ao que fui um dia.